(Foto retirada da internet)
Com o avançar do dia os últimos raios de sol escorriam por entre a folhagem amarelo acastanhada das árvores. Sentada num banco de jardim, à beira do rio, Mafalda fechou os olhos deixando-se inundar por todo um universo de tons, aromas e sons caraterísticos de um final de tarde de outono.
Deixou-se ficar ali. Não tinha pressa. Gostava sempre que podia ir para aquele jardim, sentar-se naquele banco e ali ficar a admirar o rio, que lentamente e sem interrupções ia deslizando no seu leito em direção ao mar. Fazê-lo numa amena tarde de outono era ainda mais agradável, no meio daquela sinfonia de tons e aromas.
Mafalda deixou-se fical ali de olhos fechados. A sua mente viajou para longe, para muito longe. Viajou para o outro lado do oceano. Gostaria que ele pudesse estar ali ao seu lado, poder encostar-se a ele, sentir o seu abraço. Mas isso não era possível tal era a distancia que os separava, imposta pelas agruras da vida que o obrigaram a emigrar.
Há muito tempo que ele procurava trabalho sem encontrar. Sim ele procurava trabalho e não emprego. Era licenciado em engenharia e mesmo assim não conseguiu arranjar emprego. A crise tornava tudo muito difícil. Respondera sem sucesso a diversos anuncios para engenheiro, mas sem sucesso. O tempo fora passando e cada dia que passava tornava-se menos exigente, e procurava trabalho em qualquer lado, como servente, em restaurantes, como operador de loja. qualquer coisa servia. Mas as desculpas sucediam-se: "a vaga estava preenchida", "tem habilitações a mais", "apenas temos estágios não remunerados".
Farto disto, decidira ir-se embora, e quatro meses depois estava a viver o sonho americano. Estava a trabalhar como engenheiro numa das maiores elétricas do pais.
Mafalda sabia que aquela decisão tinha sido difícil de tomar, e ainda mais difícil de viver, pois a cada dia que passava as saudades aumentavam chegando mesmo a tornar-se quase insuportáveis.
Mas se havia algo que pudesse fazer para atenuar essa saudade imensa era sentar-se naquele banco de jardim, contemplando aquele manto de folhas amarelo acastanhado, que se estendia até ao rio. Então fechava os olhos e enquanto viajava para junto dele as suas mãos acariciavam o seu ventre sentindo-o dentro dela, crescendo dia após dia.
Faltava pouco. Cada dia que passava estava mais perto de estar junto dele, de estarem os três juntos.
Continuou sentada de olhos fechados saboreando a calma daquele final de tarde de outono.
Não tinha pressa.
4 comentários:
Muito bonito. Uma história cada vez mais real, infelizmente.
Lindo e passou toda alma e beleza do momento! beijos,chica
Tempos de mudança que acompanham as estações do ano. E este particualrmente, ficará como sendo um Outono que irá marcar muitas famílias.
Um abç,
mz
Um belo texto.
Abraços
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