quinta-feira, 21 de julho de 2011

O segredo mais bem guardado do MUNDO

(Foto tirada da Internet)

Fazia três horas que ele se encontrava dentro do carro a vigiar aquela porta. A monotonia da espera começava a tomar conta dele, mas o pior é que ele não fazia a mínima ideia de quanto tempo mais teria que ali ficar. Decidiu abrir mais uma embalagem de donuts. Já era o oitavo que ia comer. Mas não importava. Apenas queria passar o tempo. A chuva fina continuava a cair lentamente e ia pintalgando o pára-brisas de pequenas gotas, quais cristais, que a pouco e pouco lhe iam torvando a visão para além daquele espelho de pequenos cristais.

Estava a meio do donut quando lhe pareceu ver algo. Rodou a chave na ignição, apenas uma posição, e accionou o limpa pára-brisas. Havia movimento. A porta abrira-se, e via-se uma luz amarelada no seu interior. Segundos depois, um carro desceu a rua, parando em frente da porta. Do Audi A6 azul escuro sairam três indivíduos, vestidos com fatos de bom corte, cinzento escuros, e deslocaram-se em passo apressado em direcção à porta aberta, que se fechou mal o último entrou.

Tinha que fazer algo. Não sabia bem o quê, mas precisava de saber o que se passava para lá da porta. Tinha que confirmar a informação que recebera da sua fonte. Não passara 2 semanas a vigiar aquela casa para nada. Não passara hoje três horas ali para nada. Fechou o impermeável tendo o cuidado de colocar por dentro a sua máquina fotográfica, o que não foi muito fácil devido à sua grande lente.

Abriu a porta do carro e saiu, curvando-se ligeiramente para se proteger da chuva. Fechou o carro e colocou a chave na fechadura para o trancar, evitando assim o apito do alarme caso tivesse usado o comando electrónico. Olhou em volta examinando as redondezas e reparou num muro do outro lado da rua. Junto do muro, uma árvore grande de frondosa e ao seu lado um contentor do lixo. Decidiu-se rapidamente e subiu para cima do contentor do lixo, aproveitando-o para conseguir subir à árvore e escalar o muro. Sentou-se no muro, encoberto pelos ramos da árvore e reparou que dali conseguia ver uma janela iluminada. Para lá da vidraça conseguiu reparar em 6 ou sete pessoas, todas elas do sexo masculino. Tirou a sua máquina fotográfica para fora do impermeável e depois de a ligar espreitou pela objectiva, tirando o máximo partido daquele potente zoom. Focou a janela. Os rostos para lá do vidro tornaram-se nítidos.

O primeiro rosto que visualizou era o Presidente da República. Ao seu lado direito estava o Primeiro Ministro. Tudo dava a entender que esta era uma reunião ao mais alto nivel. Desviou ligeiramente a objectiva e focou os rostos dos três homens que tinham entrado ainda há pouco. Os seus rostos, apesar de serem típicos rostos de um europeu, facilmente denunciavam que não seriam portugueses. Olhou com mais atenção e de imediato confirmou o que suspeitava. Ainda há umas horas tinha estado diante deles. Não se podia esquecer pois nessa tarde tinha tirado cerca de 200 fotografias naquela conferência de imprensa dada no Ministério das Finanças. Eram os representantes da TROIKA que ali estavam reunidos com o Presidente e com o Primeiro Ministro.

Tudo começava a fazer sentido. As informações da sua fonte começavam a perfilar-se diante de si. Tinha recebido uma informação de que iria acontecer uma reunião ultra-secreta para assinar os termos de acordo com o objectivo de ser estabelecida uma medida secreta que permitisse reduzir drasticamente o consumo interno e com isso diminuir as importações e consequentemente o défice externo.

Em cima da mesa fora colocado um documento por alguém que parecia ser um assessor. Foram colocadas 5 versões desse documento. Uma versão em frente a cada um dos membros reunidos naquela sala.

Maximizou o zoom para tentar ler o que continha o documento, e qual não foi o seu espanto quando reparou que conseguia ler o que lá estava escrito. Não pensou duas vezes e enquanto tentava ler desatou desalmadamente a tirar fotografias. Não sabia o que era mais rápido: o bater do seu coração ou o abrir e fechar do obturador da máquina. Ainda que lhe parecesse impossível achava que seria o seu coração o mais rápido.

Ali estava a confirmação. Ali estava a prova. Aquilo ia ser um estrondo quando fosse publicado. Estava a ser assinado um acordo que durante os próximos 12 meses, previa que aos fins-de-semana o tempo estivesse mau, o céu carregado de nuvens, responsáveis por intempéries, que levassem a que a população ficassem em casa sempre que possível, gastando menos dinheiro, e assim pudessem poupar, colocando o seu dinheiro no banco e assim financiando o sistema financeiro.

AQUELE ERA ATÉ AGORA O SEGREDO MAIS BEM GUARDADO DO MUNDO..... MAS AMANHÃ DEIXARIA DE O SER!

Participação no tema de Julho/2011 ("Segredo") da Fábrica de Letras

5 comentários:

João Roque disse...

Muito bem engendrado o enredo desta história.

Eva Gonçalves disse...

Gosto muito da forma como desenvolves as histórias (já vi que colocaste na lateral a merecidíssima menção honrosa no meu concurso, mas está tão pequenina, que nem se lê!) :)Empolgas o leitor e levas a querer sempre ler mais, com bons detalhes imaginativos, e neste caso, uma pitada de ironia :) Boa participação na fábrica!Beijinho

Utópico disse...

Confesso que há alguns meses me aventurei neste blog e descobri o fábrica de Letras e outros blogs muito interessantes. Sinto que quanto mais participo na escrita de diversos temas (para além dos posts generalistas de simples desabafos), mais facilmente sai a minha escrita, e espero usar oblog como balão de ensaio para algo mais.

Quanto à mensção honrosa, confesso que não sei definir outro tamanho, pois sou um pouco bazaroco no design do blog. Ainda melembro de ter demorado quase uma noite inteira a fazer este layout, que tão cedo não me vou arriscar a mudar.

Unknown disse...

O seu texto é maravilhoso mas eu penso que o fato deixou de ser segredo antes mesmo de ser publicado.abçs e paz.

Briseis disse...

Tão giro...! Genial, super super original! ...E a ferroadazinha do costume ao sistema. Gosto. =)

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