(Foto tirada da internet)
Sendo a democracia um regime de governo em que o poder de tomar decisões está com os cidadãos de forma directa, ou indirecta, por meio de representantes eleitos, e apesar de se valorizarem valores como a liberdade de expressão, de opinião, o debate de ideias, a igualdade de direitos, fico cada vez mais com a impressão que a democracia está feita à medida.
"- À medida?", perguntarão vocês: "- À medida de quê??"
À medida dos grandes partidos, daqueles que são os partidos que têm assento parlamentar (PS, PSD, CDS-PP, PCP, BE).
Provavelmente alguns estarão a pensar como cheguei a esta conclusão, outros serão talvez capazes de pensar como eu, e outros ainda talvez não.
Eu passo a explicar. Estes cinco partidos, uns mais outros menos, andam sempre presentes nos jornais, nos telejornais, estão sempre representados por comentadores em programas de televisão onde de forma clara se percebe a sua afinidade.
"Mas isto é natural", dir-me-ão, pois são partidos que têm assento parlamentar e são responsáveis pelas decisões tomadas no nosso país. Até poderia concordar com este argumento, em cenários fora de campanhas eleitorais. No entanto a minha opinião muda quando estamos a falar de campanhas eleitorais.
Nas campanhas eleitorais, e com excepção dos Direitos de Antena, onde todos os partidos, com ou sem assento parlamentar, tem direito ao seu tempo de antena para exporem as suas ideias. Quero acreditar que é igual para todos, mas tenho as minhas dúvidas, a ver por alguns tempos de antena onde se ouvem discursos pausados, composições cinematográficas acompanhadas de verdadeiros musicais, cheios de testemunhos de diversas personalidades, enquanto que outros a mensagem a mensagem é dita a correr, qual anúncio dum banco quando se está a ler as tradicionais letras minúsculas que não interessa falar muito.
Isto já para não falar das subvenções que o Estado português para que os partidos realizem as suas campanhas eleitorais, que passam por alguns milhões de euros para alguns partidos (PS e PSD) e apenas por algumas dezenas de milhar para outros bem mais pequenos, como por exemplo o PCTP/MRPP.
Mas se hà lugar onde se nota mais essa diferença é nos telejornais e nos debates. Nos telejornais, passamos a quase totalidade dos telejornais (4 a 5 vezes por dia) a ver as acções de campanha dos 5 partidos (quase que apetece dizer dos 5 violinos), enquanto que dos restantes partidos, aqueles pequenos, temos sorte se aparecerem pelo menos uma vez durante a campanha eleitoral.
Nos debates vemos as 3 televisões (RTP, SIC e TVI) a degladiarem-se pelos debates com os 5 partidos, onde até são feitos sorteios para ver quem fica com o debate PS vs. PSD. Mas e os outros?? Cadê os outros. Os outros tiveram direito a um debate onde estiveram todos à molhada.
Até deu dó, ver o apresentador da SIC dizer que se este raciocínio se aplicasse à totalidade dos partidos seria necessário realizar 136 debates.
No entanto vê-se que memos os tribunais apoiam aquilo a que chamo a Democracia à Medida, pois o valor determinado como multa para cada dia em que esta decisão não seja acatada é de apenas 1.000 euros. Gostaria de ver como os senhores das televisões reagiriam se o valor da multa estipulada tivesse sido de 1 milhão de euros /dia.
Quase que até apetece GRITAR: "FORÇA PCTP/MRPP !!!"
2 comentários:
Não é desrespeitar a democracia, mas fazer debates com todos os partidos é utópico, num período eleitoral.
Mais vale acabar com os debates.
E já agora, pergunto, que interesse ter um debate entre o Coelho da Madeira e outro qualquer partido?
Para palhaçadas, já há muitas coisas nas televisões portuguesas.
Reconheço que existem palhaçadas que são dispensáveis.
Debates 2 a 2 reconheço que é utópico (penso que tinham que ser 136 debates. No entanto acho que poderiam haver debates com 5 ou 6 de cada vez em que todos pudessem ter o direito de ser ouvidos e de debater ideias.
Não migalhas como hoje com 10 minutos para cada um dos partidos pequeninos, e nos 4 canais ao mesmo tempo.
Aliás, os debates dos partidos com assento parlamentar até começaram antes da campanha (últimas 2 semanas) pelo que nessa altura havia mais tempo.
Quem nos garante que um dia não surge um partido pequeno com ideias interessantes e que poderia crescer e contribuir para a melhoria da sociedade, e não o pode fazer pois não se consegue fazer ouvir??
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