quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Segunda chance

(Foto retirada da internet)

Como quem não quer a coisa, a luminosidade do nascer do dia foi entranto pela janela, contornando suavemente as barras de ferro e pousando gentilmente naquele rosto bronzeado que repousava na rija almofada. Gradualmente o calor foi aumentando e aquele corpo inerte no beliche sujo e desconfortável foi lentamente despertando para a realidade que o rodeava.

"Onde estou? O que é que me aconteceu? O que é aquilo na janela?".

A pouco e pouco a sua visão foi-se tornando mais clara e apercebeu-se que estava deitado num beliche, mesmo ao lado de uma retrete que há muito deixara de ser branca, que as janelas tinham grades e que a porta era também ela gradeada e constituída por redondas e cinzentas barras de ferro.

Estava numa cela.

Depois de algum esforço conseguiu recordar o que tinha acontecido.

Ainda há menos de 3 anos tinha uma vida perfeita: uma carreira de sucesso, uma mulher perfeita que amava, e que o amava, uma filha linda e uma casa isolada no campo onde a família se refugiava do stress do dia a dia.

Mas a vida fora madrasta para ele e há menos de um ano havia sido diagnosticado um cancro, que em menos de 6 meses lhe roubara a sua mulher. Foram 6 meses de angústia, de sofrimento, tentando combater esse monstro, tentando manter o amor da sua vida.

Mas apesar de ter gasto quase todas as suas economias, não conseguiu vencer a Besta. Fazia agora um ano que este levara com ele o seu AMOR, a SUA vida. Depois veio a crise financeira e com ela o desemprego, e se ainda lhe tinham sobrado algumas economias, rapidamente estas se entregaram e perdeu a sua casa. Desde então que morava com a sua filha numa residencial, procurando desesperadamente por um emprego com o qual pudesse financiar a universidade da sua filha. 

Certo dia, enquanto esperava que ela saísse das aulas, entrou num bar, e sem que desse por isso, bebeu mais de meia garrafa de uísque. Ao olhar para o relógio na parede atrás do balcão, viu que estava atrasado, tirou a carteira, pagou e saiu.

Começava agora a perceber o tremendo erro que cometera. Não estava em condições de conduzir, mesmo assim fizera-o e passara, sem se aperceber um sinal vermelho. Depois apenas um estrondo e os gritos da sua filha. Depois silêncio.

E ali estava ele, numa cela, à espera de ser apresentado a um juiz, e a sua filha numa cama de hospital, em coma.

"Ei, tu aí !!!"
"Quem, eu?"
"Sim, estou a falar contigo. Ligaram agora do hospital. A tua filha saiu do coma e vai ficar bem, provavelmente sem qualquer mazela."

Em 3 anos o seu mundo ruira sem nunca ter percebido porquê, e a sua vida perdera todo e qualquer significado. Mas bastaram apenas 15 segundos para voltar a ter uma segunda chance, para que a sua vida recomeçasse, e desta vez jurou que iria enfrentar tudo e todos, e conseguiriria ultrapassar todos os obstáculos, por mais difíceis que ele fossem, tudo em prol da sua filha, que era neste momento a única razão pela qual tinha interesse em  viver e......

....... as BESTAS que não se aproximassem dele.
Participação no tema de Setembro /2012 ("Recomeços") da Fábrica de Letras






1 comentário:

Briseis disse...

Infelizmente, certas Bestas não se incomodam com as nossas ameaças ou caras feias... Mas um recomeço é sempre inspirador e há que renovar essa energia para nunca desistir, nem cair nos mesmos erros...
um beijinho

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