segunda-feira, 14 de março de 2011

A Crise e o esbanjamento !


Fez recentemente 10 anos que aconteceu a tragédia da queda da ponte em Entre-os-Rios. Muitos de nós ainda nos lembramos do horror e da angústia que sentimos naqueles dias ao ver os familiares e a população da região desesperados sem saberem dos seus entes, desaparecidos na calada da noite nas águas escuras do rio.

O país sofreu em conjunto, a sociedade uniu-se no apoio às vítimas e logo surgiu um rol de promessas quanto ao apuramento dos factos e das responsabilidades com a queda da ponte e quanto à construção de uma nova ponte que unisse as duas margens do rio.

Todos nós nos lembramos da angústia que foi o processo de buscas nos dias que se seguiram. Mas a verdadeira angústia essa foi a vivida por aqueles que perderam familiares nessa tragédia (pais, mães, filhos e filhas, irmãos e irmãs, ou até a perda de amigos ou conhecidos).

Essa angustia apenas se assemelha aquela vivida por alguém sempre que um barco de pescadores, ou outro qualquer, naufraga na nossa costa, e existem pessoas desaparecidas. Ou quando alguém cai ao mar, ou a um rio, ou mesmo quando acontecem tragédias como as enxurradas na Madeira.

E quando alguma tragédia dessas acontece, o que é que vemos???

Vemos homens e mulheres corajosos que põem a sua vida em perigo, no mais puro dos altruismos, com o objectivo único de salvar uma vida humana, ou no pior dos cenários, resgatar o seu corpo para que as suas famílias possam fazer o seu luto. Homens e mulheres que dão tudo o que têm mas que não dispõem de meios técnicos adequados para o fazer.

Hoje, como há 10 anos atrás, continuamos a ver as operações de busca e salvamento a serem interrompidas sempre que anoitece pois não existem helicópteros que possam efectuar buscas durante a noite, devidamente equipados com fortes holofotes que permitam assim que não se desperdicem horas cruciais nestas operações.

Mas por incrível que pareça, um país que se encontra na crise que todos sabemos, prefere gastar uma enormidade de dinheiro na aquisição de submarinos, blindados que não chegam e até mesmo um TGV, em vez de utilizar essas mesmas verbas a comprar helicópteros que permitam efectuar salvamentos nocturnos, e a equipar melhor os bombeiros e os hospitais e centros de saúde, ou até mesmo a melhorar as condições das nossas escolas.

Mas pelos vistos o que interessa, tal como o ex-embaixador dos EUA em Portugal, que considerava que os portugueses gostavam é de comprar brinquedos caros, que pouco contribuem para a melhoria das condições de vida dos portugueses, e apenas servem para aumentar o ego de alguns.

Quantas mais tragédias teremos ainda que assistir em que as operações de busca e salvamento sejam interrompidas durante a noite por falta de meios técnicos, com elevados prejuízos para a vida humana?

Mesmo estando Portugal a atravessar um crise sem precedentes a vida humana terá sempre algo de valor inultrapassável e que justificaria um reforço no investimento de meios técnicos para que as operações de salvamento pudessem minimizar a angústia e o desgosto que a perda de uma vida representa.

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